Quaresma e Penitência

A Quaresma é um dos períodos mais importantes do calendário cristão, sendo um tempo de reflexão, arrependimento e preparação para a celebração da Páscoa. Sua observância remonta aos primeiros séculos do cristianismo e tem variações nas diferentes tradições cristãs. Este tempo litúrgico convida os fiéis a aprofundarem sua fé por meio da oração, do jejum e da caridade.
História
A palavra “Quaresma” vem do latim quadragesima, que significa “quadragésimo”, referindo-se aos quarenta dias de preparação para a Páscoa. O período tem sua base nos quarenta dias que Jesus passou no deserto em jejum e oração, enfrentando tentações (Mateus 4,1-11).
Nos primeiros séculos da Igreja, a Quaresma era um tempo de preparação dos catecúmenos (pessoas que se preparavam para o batismo na Páscoa). Com o tempo, essa prática foi estendida a toda a comunidade cristã, como um período de penitência e renovação espiritual.
Quarta-feira de Cinzas
A Quarta-feira de Cinzas marca o início da Quaresma. Durante as celebrações, os fiéis recebem uma cruz de cinzas na testa. As cinzas simbolizam humildade, arrependimento e a transitoriedade da vida. “Porque tu és pó e ao pó voltarás!” (Gn 3,19)
É um dia de jejum e abstinência de carne, incentivando a reflexão e a busca pela renovação espiritual.
Período Quaresmal
A Quaresma é o período de quarenta dias que antecede a Páscoa, começando na Quarta-feira de Cinzas. Durante esse tempo, os cristãos são chamados a refletir sobre sua caminhada espiritual, praticando o jejum, a oração e a caridade.
O período quaresmal não é apenas um tempo de restrições, mas de renovação espiritual. É uma oportunidade para o cristão reavaliar sua vida à luz do Evangelho e se aproximar mais de Deus.
A introdução da Quaresma na tradição cristã
A prática da Quaresma foi se consolidando ao longo dos séculos. No Concílio de Niceia (325 d.C.), a Igreja formalizou a observância desse período como um tempo de preparação para a Páscoa. A estrutura de jejum e penitência foi sendo ajustada ao longo da história, mas o princípio central permaneceu o mesmo: um tempo de conversão e renovação espiritual.
A Quaresma nas diferentes tradições cristãs
Igreja Católica
A Igreja Católica vê a Quaresma como um tempo de penitência e conversão. Durante esse período, os fiéis são incentivados a praticar o jejum e a abstinência de carne (especialmente às sextas-feiras), além de se dedicarem à oração e à caridade. O Papa costuma oferecer reflexões especiais para orientar os católicos durante esse tempo.
A liturgia quaresmal na Igreja Católica inclui a omissão do “Glória” e do “Aleluia”, simbolizando a sobriedade do período. As igrejas são decoradas de maneira simples e os paramentos litúrgicos são roxos, simbolizando penitência e preparação espiritual.
Igreja Ortodoxa
Na tradição ortodoxa, a Quaresma é chamada de “Grande Quaresma” e segue um calendário diferente do ocidental. O jejum é rigoroso e inclui a abstinência de carne, laticínios, vinho e azeite, dependendo do dia. O período começa com o “Domingo do Perdão”, em que os fiéis pedem perdão uns aos outros antes de iniciar o jejum.
As liturgias ortodoxas são marcadas por cânticos penitenciais, leituras dos Salmos e um forte apelo ao arrependimento. Durante a Grande Quaresma, a Igreja Ortodoxa enfatiza a importância da humildade e do desprendimento das coisas mundanas.
Comunhão Anglicana
A Comunhão Anglicana observa a Quaresma como um tempo de introspecção e renovação espiritual. A Igreja Anglicana mantém práticas semelhantes às da Igreja Católica, como a Quarta-feira de Cinzas, a ênfase no jejum e o uso de paramentos roxos na liturgia.
As igrejas anglicanas oferecem oportunidades de estudo bíblico, retiros espirituais e liturgias mais sóbrias durante a Quaresma. A prática do “Jejum Anglicano” é incentivada, mas não imposta, deixando a decisão pessoal de como viver o período de maneira significativa.
Igrejas Evangélicas
A maioria das igrejas evangélicas não observa a Quaresma de maneira litúrgica, pois enfatizam uma relação direta com Deus sem a necessidade de ritos tradicionais. No entanto, algumas denominações, como os luteranos, metodistas e presbiterianos, reconhecem a Quaresma como um tempo de reflexão e encorajam práticas espirituais como oração e jejum.
Muitas igrejas evangélicas utilizam esse período para promover campanhas de oração e avivamento, chamando os fiéis a um compromisso mais profundo com a fé.
O que pode ser feito na Liturgia:
- Uso de paramentos e tecidos roxos.
- Celebrações eucarísticas mais sóbrias.
- Leitura de textos penitenciais e proféticos.
- Prática de oração, jejum e caridade.
- Reflexões sobre o arrependimento e a conversão.
O que não pode ser feito na Liturgia:
- Uso do “Aleluia” nas liturgias.
- Festividades dentro do templo.
- Decorações litúrgicas exuberantes.
- Músicas festivas ou alegres na celebração.
Símbolos Litúrgicos da Quaresma
- Cinzas (símbolo de arrependimento e mortalidade).
- Cruz (recordando o sacrifício de Cristo).
- Coroa de espinhos (simbolizando a Paixão de Cristo).
- Véu roxo (cobrindo imagens e crucifixos em algumas tradições).
Conclusão
A Quaresma é um convite à transformação e ao reencontro com Deus. Mais do que um tempo de restrições, é um período de crescimento espiritual, que nos prepara para a celebração da ressurreição de Cristo.
Como afirmou Santo Agostinho: “Não digas: Amanhã me converterei. Talvez amanhã não venhas a ter tempo de o fazer.”
Que este tempo quaresmal seja vivido com sinceridade, levando-nos a uma vida cristã mais profunda e autêntica.
(Artigo elaborado com o auxílio de inteligência artificial e Marcelo I. Bessa, Postulante da DASP)

