A Eucaristia na visão Anglicana

A Santa Ceia, também conhecida como Eucaristia, é um dos sacramentos centrais na vida da Igreja Cristã. Sua origem remonta ao próprio Cristo, que, na última ceia com os discípulos, partiu o pão e compartilhou o vinho, dizendo: “Fazei isto em memória de mim” (Lucas 22,19). Essa celebração, profundamente teológica e litúrgica, tornou-se um ponto de encontro para diversas tradições cristãs, cada uma com sua ênfase e interpretação.
História e Tradição da Eucaristia
Desde os primeiros séculos, a Igreja entendeu a Eucaristia como a participação no corpo e no sangue de Cristo. Os Padres Apostólicos e da Igreja primitiva, como Inácio de Antioquia e Justino Mártir, descrevem-na como um ato central de adoração e comunhão. A teologia eucarística evoluiu ao longo dos séculos, recebendo especial destaque no Concílio de Niceia (325), que reafirmou sua importância como um dos mistérios essenciais da fé.
Unidade Teológica: Católicos, Ortodoxos e Anglicanos
As Igrejas Católica Romana, Ortodoxa e Anglicana compartilham uma visão elevada da Eucaristia, entendendo-a como sacramento real da presença de Cristo.
• Igreja Católica Romana: Enfatiza a transubstanciação, ou seja, a transformação substancial do pão e do vinho no corpo e sangue de Cristo, mantendo apenas as aparências externas dos elementos.
• Igreja Ortodoxa: Embora não use o termo “transubstanciação”, acredita no mistério da presença real de Cristo na Eucaristia, referindo-se a ele como um “milagre divino”.
• Igreja Anglicana: A teologia eucarística anglicana varia dependendo da província. Algumas adotam os Trinta e Nove Artigos da Religião, que afirmam que a presença de Cristo na Eucaristia é real, mas de natureza espiritual, rejeitando a definição escolástica de transubstanciação.
Outras províncias, como a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), não adotam os Trinta e Nove Artigos, mas reconhecem a Eucaristia como o mistério da fé. Na Igreja Episcopal Anglicana, acredita-se que na Eucaristia estão presentes o corpo e o sangue de Jesus de forma real. No entanto, não se busca definir ou explicar teologicamente como isso acontece, aceitando o sacramento como um mistério divino.
Diferenças com Igrejas Protestantes
Algumas tradições protestantes, como os luteranos, calvinistas e batistas, divergem na compreensão e prática da Eucaristia:
• Luteranos: Afirmam a consubstanciação, isto é, Cristo está presente no pão e no vinho junto com os elementos, mas sem alteração de sua substância.
• Calvinistas: Veem a Ceia como uma participação espiritual na presença de Cristo, enfatizando seu significado memorial e comunitário.
• Batistas e outras igrejas evangélicas: Enfatizam o aspecto memorial, entendendo a Ceia como um símbolo da morte de Cristo e uma proclamação de sua obra salvífica.
Laço Ecumênico e a Eucaristia
Embora existam diferenças teológicas, a celebração da Eucaristia tem um potencial ecumênico, reunindo cristãos de diversas tradições em torno da memória de Cristo. O ato de partir o pão e compartilhar o cálice expressa a unidade em Cristo, mesmo em meio à diversidade de práticas e entendimentos.
Visão Anglicana da Eucaristia
Na tradição anglicana, a Eucaristia é um dos dois sacramentos instituídos diretamente por Cristo, ao lado do Batismo. Ela é central na liturgia, como demonstrado no Livro de Oração Comum (LOC), que estrutura a Santa Comunhão com orações, leituras e a ação sacramental.
A Eucaristia é compreendida como:
1. Memorial: Um ato de obediência ao mandato de Cristo de lembrar sua paixão e ressurreição.
2. Sacrifício: Não no sentido de repetição, mas de participação no sacrifício único de Cristo.
3. Comunhão: Um encontro íntimo com Cristo e com os outros membros do Corpo de Cristo.
Na Igreja Anglicana, há uma rica diversidade de práticas e compreensão da Eucaristia, mas um ponto comum é a crença de que Cristo está presente de forma real no pão e no vinho. Essa presença é aceita como um mistério divino, uma verdade que não se explica, mas que é vivida em fé.
Inclusão na Santa Ceia
Na Igreja Episcopal Anglicana do Brasil todas as pessoas batizadas em nome da Santíssima Trindade, sejam crianças ou adultos, são bem-vindas à mesa da Santa Ceia. Diferentemente da Igreja Católica Romana, não há a prática da “primeira comunhão” como um rito separado. Para os anglicanos, o batismo é o sacramento que inicia a vida em Cristo e dá acesso pleno à Eucaristia. A catequese e educação cristã acontecem ao longo da vida, mas não condicionam a participação.
Versículo e Reflexão
“Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede.” (João 6,35)
Palavras de um Teólogo Anglicano
O teólogo anglicano Richard Hooker escreveu: “A Eucaristia é um meio pelo qual recebemos Cristo em nós, pois não é apenas um sinal, mas uma verdadeira participação em sua graça vivificante.”
A Santa Ceia, na Igreja Anglicana, é um momento de unidade, fé e comunhão. É a celebração do mistério divino em que Cristo está presente, um sacramento que une os fiéis à mesa do Senhor em adoração e agradecimento.

