A Vela na Liturgia Cristã

O uso da vela na adoração se desenvolveu a partir da necessidade prática de iluminação, mas rapidamente assumiu significados espirituais profundos em diversas tradições cristãs. Desde os primeiros séculos, a vela tem desempenhado um papel essencial na liturgia, sendo um símbolo poderoso da presença divina, da luz de Cristo e da oração.
História do uso da vela na Igreja
O uso da vela na liturgia remonta ao judaísmo, onde as lâmpadas acesas simbolizavam a presença de Deus no Templo (Êxodo 27,20-21). Os primeiros cristãos adotaram essa prática, especialmente durante as vigílias e cultos nas catacumbas, onde a chama representava a luz de Cristo no mundo das trevas. Com o tempo, as velas se tornaram elementos fixos em rituais como a celebração da Eucaristia, batismos e funerais.
Significado da vela nas diferentes tradições cristãs
Igreja Católica
Na tradição católica, a vela simboliza a presença real de Cristo, especialmente na Eucaristia. O Círio Pascal, aceso na Vigília da Páscoa, representa a ressurreição de Cristo e é usado durante todo o tempo pascal, nos batismos e nos funerais. As velas também acompanham procissões, sacramentos e a oração pessoal, expressando devoção e intercessão.
Igreja Ortodoxa
Para os ortodoxos, a vela é um símbolo da luz de Cristo que ilumina o coração dos fiéis. Nas igrejas orientais, os fiéis frequentemente acendem velas diante dos ícones como um ato de oração e veneração. A chama da vela representa a purificação espiritual e a presença do Espírito Santo.
Tradição Anglicana
Os anglicanos mantiveram o uso das velas em sua liturgia, especialmente no altar e no Círio Pascal. Muitas igrejas anglicanas utilizam velas para destacar a centralidade da Eucaristia e o tempo litúrgico. A tradição anglo-católica enfatiza o uso devocional das velas, enquanto outras expressões anglicanas preferem um uso mais simples e simbólico.
Tradição Luterana
Os luteranos, seguindo a tradição da Reforma, preservaram o uso das velas, especialmente no altar e no Advento, destacando a vinda de Cristo como luz do mundo. O Círio Pascal é amplamente utilizado nas igrejas luteranas, e a vela batismal continua sendo um símbolo da nova vida em Cristo.
Igrejas Reformadas
Embora muitas igrejas reformadas tenham reduzido o uso das velas após a Reforma Protestante, algumas comunidades preservaram essa tradição, especialmente em contextos litúrgicos mais históricos. O Advento e as celebrações especiais frequentemente incluem o uso das velas como símbolos da espera pelo Messias e da presença de Deus entre seu povo.
As cores das velas e seus significados

Branca: Simboliza pureza, santidade e a presença de Cristo. Utilizada em celebrações como a Páscoa, o Natal e batismos.
Vermelha: Representa o Espírito Santo e o martírio. Usada em Pentecostes, festas de apóstolos e mártires.
Verde: Simboliza a esperança e o crescimento espiritual. É a cor do Tempo Comum.
Roxa: Representa penitência e preparação. Utilizada no Advento e na Quaresma.
Rosa: Expressa alegria no meio do tempo de espera e preparação, sendo usada no terceiro domingo do Advento (Gaudete) e no quarto domingo da Quaresma (Laetare).
Azul: Em algumas tradições, substitui o roxo no Advento, enfatizando a expectativa e a esperança na vinda de Cristo.
Um versículo bíblico
“Falou-lhes, pois, Jesus outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.” (João 8:12)
Palavra de um teólogo Anglicano
Lancelot Andrewes, bispo anglicano e teólogo do século XVII, escreveu sobre a simbologia da luz na adoração cristã: “Cristo é a verdadeira luz, e nós, ao acendermos nossas velas, lembramos que Sua presença brilha em meio às trevas do mundo. Que nossas vidas sejam velas vivas, iluminando com a fé e a verdade de Deus”.
Conclusão
A vela na liturgia cristã é muito mais do que um mero objeto: é um símbolo da presença de Deus, da luz de Cristo e da nossa jornada espiritual. Que cada chama acesa nos lembre do chamado de Jesus para sermos luz no mundo e refletirmos sua glória em nossas vidas.
Marcelo Ikijire Bessa, Ministro Pastoral da DASP

